sábado, 22 de outubro de 2011

até quando?

Temos todos muita tendência a limitar-nos, no tempo. Vivemos a correr, a contar os minutos, viciados nos ponteiros do relógio. E estes, não raramente, parecem-nos correr. Fazemos valer-nos da velha máxima do carpe diem. Somos melhores se conseguimos gerir melhor o nosso tempo. Porque tempo é dinheiro, e o país está em crise. O tempo limita-nos, mas só se deixarmos. Um dia não chega para tudo, se não quisermos. Uma vida não chega se a passarmos a medir o tempo. Prazos para trabalhos, compromissos a horas certas, datas de validade da comida, o tempo que a máquina demora a lavar, mais um aniversário. Insistimos em medir o tempo. E, por isso, em vez de uma componente natural da vida, o tempo torna-se num bem escasso, e não renovável. E, depois, podemos correr o risco de lidar com o tempo dos sentimentos e das relações tal e qual como é limitada a validade de um iogurte. Entendo que há coisas que, por não se medirem, não serem lineares e não se poderem apressar, não têm tempo. Esta obsessão com o tempo elimina dissimuladamente dos nossos dicionários os conceitos de espera, de paciência e de perseverança. Eu cá, gosto destes conceitos. E não me assusta que o tempo seja para ser vivido mas não para ser esgotado, muito menos controlado. Portanto, quando vejo gente exasperada porque esperou meia hora na fila do supermercado, não posso deixar de pensar que não há necessidade disso. A vida não pára, é um facto. Mas não tem que se resolver toda num segundo, numa semana, num ano. A espera pressupõe já uma vida vivida. Aliada à perseverança, pressupõe uma espera activa, e não o passivismo de ver o tempo a passar. Esta espera de que falo implica um trabalho interior de todos os dias, implica querer todos os dias aquilo que se espera. E pouco importa quantos dias se espera, quanto tempo se espera. Enquanto há vida, há tempo. E, para mim, enquanto houver tempo há espera, e paciência, e perseverança. Porque quem Ama, espera. Nem que espere a vida toda.

1 comentário:

Ana disse...

As duas últimas frases, mãe.
Obrigada. :)