quinta-feira, 24 de novembro de 2011

mão na consciência

Não tenho partido político. Desde pequena que me lembro de vibrar com as eleições, mas porque gostava das bandeirolas de muitas cores, e não porque me interessasse especialmente pela política. Fui crescendo ao som da caneta da minha mãe a escrever actas, e da sua voz a elogiar as boas escolhas e a queixar-se (muito mais vezes!) das escolhas menos certas e do muito muito muito trabalho que a política, indirecta ou directamente (não sei bem) lhe dava. Fui crescendo e comigo cresceu a curiosidade por esse mundo, das gentes engravatadas e com bom paleio, que aparentemente eram desenrascados porque tinham sempre resposta para tudo! Se calhar a escolha do meu primeiro curso foi muito motivada por este meu crescimento cercado de política à mesa das refeições. "Escrevo bem, argumento razoavelmente, até gosto de política... Direito, vamos ver o que dá". Tive muitas vezes, durante aquele semestre e meio, a folhinha de inscrição na JSD à minha frente. Ali, onde tudo é Direita. Nessa altura lembro-me de ter dito ao meu pai que só me filiaria num partido com cujas ideias concordasse na totalidade. Tenho procurado, a sério que sim, mas ainda não encontrei. Aliás, o meu pai respondeu-me logo que "a pensares assim, nunca te filias em nenhum... O que não é mau, mas nunca vais concordar com tudo". No entanto, e apesar de não ter partido político, tenho consciência política. Consigo agora, melhor do que antes, perceber as falácias nos discursos, as inconveniências, os jogos. Consigo agora perceber quando me estão a tramar a vida, à grande. E começo a perceber que, se calhar e com muita pena minha, este país (que é o meu) não me quer cá. Começo a pensar que daqui a dois anos quando for licenciada (e bem licenciada), o meu país vai fazer um manguito à minha formação, que uma qualquer França ou Inglaterra vai reconhecer como boa. Começo a pensar que, se calhar, tenho que me ir embora não tarda muito. E que, ainda que não vá, vou trabalhar que nem uma moura (com gosto, atenção, não é isso que está em causa), e vou receber como técnica de 5ª categoria, e não como licenciada. Porque no meu país os enfermeiros ainda são uma raça que parece que não faz muita falta, portanto "pague-se mal, que o que eles fazem qualquer um faz". Hoje não faço greve porque a greve não é para mim. Mas só por isso. Porque não tenho partido político, mas não sou parva, e não gosto de coisas pouco justas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

brain storm

Tenho a manta enrolada aos pés da cama, dezenas de folhas de apontamentos para organizar, a mala para desfazer, sacos com compras para pôr no lugar, e um punhado de posters para colar na parede. Cá dentro, tenho um turbilhão de ideias que não param. Deixo-as passar, e não escolho fixar-me em nenhuma. Foi um dia assim. Meio esquisito. O telemóvel em cima da cama insiste em não tocar, e aquele café que íamos beber hoje à noite está hipotecado. E eu precisava de ir. De sair. De me sentir confortada por dentro, pelo quente de um café ou de um chá, e pela presença das almas que pintam a minha. Não é tristeza, a sério que não. É melancolia, mesmo. Daqueles dias em que só o que se precisa é mesmo de um chá! Já fui de extremos. Euforias e tristezas. E já confundi muitos dias como o de hoje com dias tristes. Olho à minha volta, outra vez. Em dois meses fiz destas quatro paredes um espaço meu. É fantástica a capacidade que temos de nos adaptar às mudanças. As mais pequenas, como um corte de cabelo ou uma casa, custam menos. As maiores, ah! as maiores, essas custam mais! Mas um dia, um dia como hoje, olhamos para dentro (como quem olha à sua volta) e vemos que aquilo que era um pedregulho no sapato, é agora já uma pedrinha pequenina que quase nem sentimos. E é por isto tudo, que está para aqui baralhado e aparentemente sem nexo, que eu gosto de viver! E que não percebo aqueles que não vivem... Para quem não é Feliz, o tempo não chega; parece que tudo corre, tudo foge; e não há tempo a perder, porque perder tempo significa perder coisas, pessoas, sentimentos, ocasiões, e tudo e mais alguma coisa. Para quem é Feliz, como eu, o tempo é vivido ao segundo. Não porque se acabe, ou porque signifique perder mais uma pedra do castelo. Pelo contrário, porque cada segundo é a oportunidade de ganhar mais uma pedra para a construção, de crescer mais um dedo, de aprofundar relações, de continuar a aprender a viver a Felicidade. Portanto, posto isto, não tenho mais argumentos para me convencer a mim própria de que este quarto hoje não fique arrumadinho. Porque, cá por dentro, enquanto os dedos se passeavam pelo teclado, foi-se tudo arrumando nos devidos lugares. E se o telemóvel não tocar e não formos beber café, hei-de beber uma chávena de chá na minha varanda com vista para a cidade. E para mim.